OLHARES SOBRE O MAR
              (O Mar em Poesia)


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OS POETAS
ANTÓNIO BOTTO

PASSEI O DIA OUVINDO O QUE O MAR DIZIA


Eu ontem passei o dia
Ouvindo o que o mar dizia.
Chorámos, rimos, cantámos.
Falou-me do seu destino,
Do seu fado...
Depois, para se alegrar,
Ergueu-se, e bailando, e rindo,
Pôs-se a cantar
Um canto molhado e lindo.

O seu hálito perfuma,
E o seu perfume faz mal!
Deserto de águas sem fim.
Ó sepultura da minha raça
Quando me guardas a mim?

Ele afastou-se calado;
Eu afastei-me mais triste,
Mais doente, mais cansado...

Ao longe o Sol na agonia
De roxo as águas tingia.

«Voz do mar, misteriosa;
Voz do amor e da verdade!
- Ó voz moribunda e doce
Da minha grande Saudade!
Voz amarga de quem fica,
Trémula voz de quem parte...»
António Botto

Por MattusStyle em 19.01.2019 às 14:02


ANTÓNIO GEDEÃO

POEMA DA MALTA DAS NAUS


Lancei ao mar um madeiro,
espetei-lhe um pau e um lençol.
Com palpite marinheiro
medi a altura do sol.

Deu-me o vento de feição,
levou-me ao cabo do mundo.
Pelote de vagabundo,
rebotalho de gibão.

Dormi no dorso das vagas,
pasmei na orla das praias
arreneguei roguei pragas,
mordi pelouros e zagaias.

Chamusquei o pelo hirsuto,
tive o corpo em chagas vivas,
estalaram-me as gingivas,
apodreci do escorbuto.

Com a mão direita benzi-me,
Com a direita esganei.
Mil vezes no chão, bati-me,
outras mil me levantei.

Meu riso de dentes podres
ecoou nas sete partidas.
Fundei cidades e vidas,
rompi as arcas e os odres.

Tremi no escuro da selva,
Alambique de suores.
Estendi na areia e na relva
Mulheres de todas as cores.

Moldei as chaves do mundo
a que outros chamaram seu,
mas quem mergulhou no fundo
do sonho, esse fui eu.

O meu sabor é diferenre.
Provo-me e saibo-me a sal.
Não se nasce impunemente
nas praias de Portugal.
António Gedeão

Por MattusStyle em 19.01.2019 às 14:02


ARMANDO CÔRTEZ RODRIGUES

CANÇÃO DO MAR ABERTO


Canção do Mar Aberto
Onde puseram teus olhos
A mágoa do teu olhar?
Na curva larga dos montes
Ou na planura do mar?

De dia vivi este anseio;
De noite vem o luar,
Deixa uma estrada de prata
Aberta para eu passar.

Caminho por sobre as ondas
Não paro de caminhar.
O longe é sempre mais longe…
Ai de mim se me cansar!...

Morre o meu sonho comigo,
Sem te poder encontrar
Armando Côrtez Rodrigues

Por MattusStyle em 19.01.2019 às 14:02


CHARLES BAUDELAIRE

O HOMEM DO MAR


Homem livre, o oceano é um espelho fulgente
Que tu sempre hás-de amar. No seu dorso agitado,
Como em puro cristal, contemplas, retratado,
Teu íntimo sentir, teu coração ardente.

Gostas de te banhar na tua própria imagem.
Dás-lhe beijo até, e, às vezes, teus gemidos
Nem sentes, ao escutar os gritos doloridos,
As queixas que ele diz em mística linguagem.

Vós sois, ambos os dois, discretos tenebrosos;
Homem, ninguém sondou teus negros paroxismos,
Ó mar, ninguém conhece os teus fundos abismos;
Os segredos guardais, avaros, receosos!

E há séculos mil, séc'ulos inumeráveis,
Que os dois vos combateis n'uma luta selvagem,
De tal modo gostais n'uma luta selvagem,
Eternos lutador's ó irmãos implacáveis
Charles Baudelaire

Por MattusStyle em 19.01.2019 às 14:02


OLAVO BILAC

EM UMA TARDE DE OUTONO


Outono. Em frente ao mar. Escancaro as janelas
Sobre o jardim calado, e as águas miro, absorto.
Outono... Rodopiando, as folhas amarelas
Rolam, caem. Viuvez, velhice, desconforto...

Por que, belo navio, ao clarão das estrelas,
Visitaste este mar inabitado e morto,
Se logo, ao vir do vento, abriste ao vento as velas,
Se logo, ao vir da luz, abandonaste o porto?

A água cantou. Rodeava, aos beijos, os teus flancos
A espuma, desmanchada em riso e flocos brancos...
Mas chegaste com a noite, e fugiste com o sol!

E eu olho o céu deserto, e vejo o oceano triste,
E contemplo o lugar por onde te sumiste,
Banhado no clarão nascente do arrebol...

Olavo Bilac

Por MattusStyle em 19.01.2019 às 14:02


LUISA DUCLA SOARES

O CASTELO DE AREIA


Fiz um castelo de areia.
Mesmo à beirinha do mar.
À espera que uma sereia.
Ali quisesse morar.
Ó mar, Ó mar…
Mas foi só um caranguejo.
Que ali me foi visitar.
Ó mar, Ó mar…
Mas foi só uma gaivota.
Que ali me foi visitar.
E levou o meu castelo,
O meu castelo de areia.
Para no mar morar nele.
A minha linda sereia.
Luisa Ducla Soares

Por MattusStyle em 19.01.2019 às 14:02


FERNANDO PESSOA

MAR PORTUGUÊS


Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!

Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!
Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.

Quem quere passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.
Fernando Pessoa

Por MattusStyle em 19.01.2019 às 14:02


ALMEIDA GARRETT

BARCA BELA


Pescador da barca bela,
Onde vais pescar com ela.
Que é tão bela, Oh pescador?
Não vês que a última estrela.
No céu nublado se vela?
Colhe a vela, Oh pescador!
Deita o lanço com cautela,
Que a sereia canta bela...
Mas cautela, Oh pescador!
Não se enrede a rede nela,
Que perdido é remo e vela,
Só de vê-la, Oh pescador.
Pescador da barca bela,
Inda é tempo, foge dela
Foge dela Oh pescador!
Almeida Garrett

Por MattusStyle em 19.01.2019 às 14:02


MARIA SOUSA

MAR E GUITARRAS


Se o fado me mente na tristeza
Consola-me a alma, o garanto,
Pois sinto no seu canto a beleza,
Da alegria, ao secar meu pranto.

Podes mar sussurrar um chamamento
Nas águas serenas de Verão
Acompanhamento terás, lamento,
Das guitarras que não se calarão.

Mar e fado de mãos dadas, cantem
Memórias do meu belo recanto
Chamem a coragem e agitem

Os ventos de outrora, num só manto.
Cubram esta terra nossa que tem
Nobreza de espírito, encanto…
Maria Sousa

Por MattusStyle em 19.01.2019 às 14:02


GLÓRIA SALLES

O DOCE ENREDO DO MAR


Contei para a brisa e para um doce luar,
As coisas mais sagradas de meu coração.
Bordei minha lenda com os beijos do mar
E com todos os belos sentidos da paixão.

Imagens e saudades fizeram-me chorar
Pérolas em gotas em meu delicado chão.
Sozinha, lembrei de teu profundo olhar
Envolvendo-me em paz, flor e fascinação

Desnudei-me, levada pelo doce enredo da lua
Aos versos confessei toda minha insensatez
Senti entre as rimas, desejada paz, languidez

No contorno da alma, tatuada a imagem tua
Sinto a espuma das ondas, que meus pés acaricia.
Deixei-me levar, pela mão do mar, que tem pele macia.

Quartetos: Karla Bardanza
Tercetos: Glória Salles

Por MattusStyle em 19.01.2019 às 14:02


MARIA FERNANDA

BARCO À VELA


Se o vento que hoje sopra vier de feição
teu riso rasgado solta-se livre no rosto
e a vela içada no alto veleja por gosto
num mar de acalmia, ao bater do meu coração

Mas a maré sobe de raiva irada
e este barco à vela da vida à deriva,
deixa-me sem rumo, mas de ti cativa,
à mercê de ondas revoltas de nada

Quando a tempestade já nos céus se insurge
primeiro o clarão anuncia o que, agora, urge
o trovão que rosna e me deixa muda de aflição

Mas no fim das trevas, chegada a bonança
o meu barco à vela navega com rumo à esperança
e tu és o homem que é forte mas, de mim precisa.

Maria Fernanda

Por MattusStyle em 19.01.2019 às 14:02


AUTOR DESCONHECIDO

UM OLHAR ALÉM


Diante de meus olhos:
O mar!!!
Mar meu confessor
Eu pecador confesso
Meu cantar

Meu olhar além
Muito além! Além
Mar!
Eu te reverencio
Eu pequeno grão de areia
Em esplendido berço
Meneia

Tua grandiosidade, majestosa
Sem que seja generoso
Eu com minha pequenez
Sei que me ouves, toda vez
Autor Desconhecido

Por MattusStyle em 19.01.2019 às 14:02



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Elaborado por: Mattusstyle